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Casamento às cegas – e qual não é?

Não tenho o histórico das outras temporadas, aqui falo da 4a lançada esse ano pela Netflix. Cada episódio traz reviravoltas em cima de reviravoltas. De início é interessante observar o “experimento”. Pessoas que nunca se viram e estão atrás de um parceiro para casar.

Depois há um período de “teste”. Eles se encontram fora das cabines e fazem atividades cotidianas para decidir se realmente vão casar. Aí que a magia acontece, – ou se desfaz.

O que chama a atenção é, por um lado, a persistência das mulheres em querer casar e, por outro, a flutuação da escolha dos homens. Ora um se ofende por “ser colocado contra a parede” e joga tudo para o alto, ora diz que está confuso e a cada dia vai avaliar se ficam juntos ou não.

Enquanto elas têm carreiras, são advogadas, empresárias, bancam suas vidas, eles vivem como se esperassem alguém para “colocar ordem na casa” ou como se não quisessem se comprometer de fato.

Dinheiro não faz o caráter de ninguém, mas sim saber se virar, lidar com os compromissos da vida, e não passar dormindo ou no celular, enquanto a outra pessoa limpa a casa e toma decisões. É o que acontece com Patrick, o cara que nunca tira o boné, e Marília.

Ele evita se responsabilizar porque “ela é minha referência de maturidade” e “vamos crescer juntos”, mesmo sem dar um passo para mudar. Para pessoas buscando uma vida ao lado de alguém, precisar ser educado não só não cabe, como também lembra uma relação de mãe e filho.

Mentiras, grosserias, distorções. Sem entrar no mérito do quanto o reality apenas apresenta ou produz algumas situações, o fato de criar tanto burburinho social fala de algo que toca a muitos de nós.

Os temas são atuais. Fragilidade masculina frente ao empoderamento das mulheres. Contradições entre ser independente e se valorizar e, ao mesmo tempo, fazer de tudo para casar, mesmo com uma pessoa medíocre e com claros sinais de incompatibilidade.

Tentativas de apostar na idealização do outro, como se a fantasia pudesse superar qualquer realidade frustrante, é o que mais salta aos olhos a cada episódio. Uma segunda chance para mentiras, para repetidas cenas de estupidez jamais assumidas como tal, e inclusive abusos que só foram revelados fora do programa.

A série propõe uma aposta no amor romântico e na instituição casamento, mas cai nas dissonâncias entre as diferentes demandas do mundo. Case, mas seja sempre livre e independente. O que conta são os gestos de amor, porém, no mundo capitalista, sem dinheiro não se faz nada. Sou uma pessoa maravilhosa, o outro que me corrompe ao me provocar. Não preciso de ninguém, mas a vida só tem sentido com alguém (qualquer um) do lado.

O casamento pode ser às cegas, mas quantas relações não têm um tipo de “problema de visão” quando se trata da imagem que fazemos do outro?

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Gabriel Bernardi - Doctoralia.com.br